RPG de apocalipse zumbi “made in Brazil”

Ótima resenha, publicada originalmente no blog Vila do RPG pelo parceiro Dmitri Gadelha. Segue:

Não é novidade que os zumbis invadiram a cultura pop pra ficar. Das HQs aos videogames, passando pelo cinema e séries de televisão. Praticamente todo mundo já assistiu um filme/série/desenho ou leu um gibi/livro/conto onde zumbis foram estrelas ou
 figurantes, ora caminhando a passos trôpegos, ora correndo freneticamente, mas sempre famintos pela carne dos vivos. Eu, como bom nerd e fã do gênero, acompanho várias dessas mídias, algumas inclusive mais alternativas, que não costumam figurar nos holofotes da mídia de massas.
É nessa categoria que incluímos nosso tão amado RPG, que me surpreendeu recentemente com um projeto abordando a temática apocalipse zumbi. Trata-se, meus amigos, do Terra Devastada, RPG nacional da Casa de Plástico Game Design. Atualmente em fase de desenvolvimento e playtest, Terra Devastada já demonstra ser bastante promissor e inovador. Logo de cara, além da temática (e de ser um produto nacional), o que me atraiu no sistema foi a total ausência dos tradicionais atributos e perícias que todo RPG “normal” tem. “Mas como é que isso pode funcionar?”, você com certeza deve estar se questionando no momento. Pois bem, meu camarada RPGista, eu também pensei a mesma coisa quando li as primeiras informações sobre o Terra Devastada. Mas tenhamos paciência e vamos  analisar a versão de testes que foi disponibilizada pelos designers do jogo em seu blog oficial.


A primeira coisa que costuma nos chamar a atenção em um livro de RPG é sua aparência, o layout do texto e as ilustrações. Nesses três quesitos, podemos dizer que Terra Devastada conseguiu se sair muito bem, apesar de estarmos falando de uma versão beta. As imagens de John Bogéa retratam de maneira fidedigna a atmosfera caótica e imunda de um apocalipse zumbi. Algumas ilustrações chegam a evocar verdadeira repulsa do leitor, como algumas que ilustram esse post. Algo que também me chamou a atenção foi a referência da fonte utilizada nos títulos e tópicos ao estilo de letra usada nos filmes de George A. Romero. Uma homenagem ao pai do Gênero Z que todos os fãs de carteirinha irão notar.

O primeiro capítulo do livro, intitulado Inferno na Terra, nos apresenta o cenário através dos olhos de um cidadão comum, como eu e você. O angustiante conto introdutório, situado no interior do Amapá, narra a trajetória de um funcionário público diante dos primeiros sinais do fim do mundo. A organização do texto em trechos de diário nos insere ainda mais na mente do protagonista, ao mesmo tempo que já vai construindo de forma envolvente a atmosfera de uma história de Terra Devastada. Mais um ponto para a equipe de designers. Seguindo livro adentro, o capítulo dois, Conceitos Primordiais, explica brevemente ao leitor o que é Role-Playing Game e nos apresenta os elementos básicos do sistema de Terra Devastada. Algo bem didático e simples, que qualquer iniciante no nosso hobby  irá assimilar facilmente.

O capítulo seguinte, Características de Personagem, é dedicado à explicação do processo de criação de personagens. E é aqui que está a grande sacada dos criadores do jogo. Simplesmente não existem listas de atributos ou perícias. Tudo fica à cargo da imaginação dos jogadores. Cada personagem dispõe de doze características descritivas (físicas, sociais, mentais, etc.), que os jogadores devem criar de forma espontânea, sempre mediante aprovação do Narrador, é claro. São termos como “Amor pelo filho”, “Bom de briga”, Rosto bonito”, “Computação”, “Ódio por zumbis”, “Pesadelos constantes” e “Corpo fora de forma”. Cada característica pode ser encarada como uma vantagem ou desvantagem, de acordo com a situação em que o personagem se encontrar. É interessante notarmos que tudo fica ligado à construção do background do personagem, sua personalidade e motivações, sem a menor preocupação com toneladas de regras que já estamos acostumados a ver em outros RPGs por aí. Para um jogador iniciante, isso pode soar um pouco como liberdade exagerada, mas tenho certeza que jogadores mais experientes, que já se cansaram de combos mirabolantes e se preocupam mais com a narrativa irão gostar bastante.

A mecânica do sistema é explorada no capítulo Resolução de Conflitos, que nos apresenta as regras de Terra Devastada. Basicamente, todos os testes são resolvidos somando ou subtraindo 1d6 para cada característica envolvida em uma determinada ação do personagem e de uma chance natural da ação dar certo ou errado (o dado natural). Para ser bem-sucedido no teste, basta que um número par seja obtido em pelo menos um dado da rolagem. Algumas tarefas mais difíceis precisam de mais sucessos, chamados de pontos de desempenho. Fatores emocionais e motivacionais do personagem influenciam essas rolagens de dados, alterando o total de dados de -3d a +3d, de acordo com as situações envolvidas na narrativa, como a convicção e horror do personagem. Tomarei a liberdade de trancrever um breve trecho do livro, para tornar mais claro a simplicidade e funcionalidade do jogo:

Por exemplo: Felipe possui as características “Amor pelo filho”, “Bom de briga”, “Rosto bonito”, “Computação”, “Ódio por Zumbis”, “Pesadelos constantes” e “Corpo fora de forma”. Ele flagra um grupo de zumbis acuando seu filho em um beco e imediatamente parte para o combate. Mesmo desarmado, não vai deixar o filho ser devorado pelos zumbis nem que isso signifique morrer lutando. Neste caso, as características relevantes para esta cena são: “Amor pelo filho”, “Bom de briga”, “Ódio por Zumbis” e “Corpo Fora de Forma”, dentre essas características relevantes, somente três delas são vantajosas em relação à cena, são elas “Amor pelo filho”, “Bom de briga” e “Ódio por Zumbis”. Uma delas é desvantajosa, o “Corpo Fora de Forma”. Sendo assim, Felipe ganhou 3d pelas características vantajosas (1d por cada uma) e perdeu 1d por conta da desvantagem. Totalizando 2d só de características. Ele adiciona mais o 1d natural tendo como montante de dados final para esse teste um total de 3d.

Mais uma vez aqui podemos perceber o quanto é a história que determina a matemática do jogo, e não o contrário. Essa simplicidade pode parecer, à primeira vista, uma falha ou deficiência de Terra Devastada. Mas muitos famosos sistemas de RPG pecam pelo exagero de regras. Um retorno à simplicidade pode ser uma boa alternativa para iniciantes que não estão dispostos a engolir centenas de páginas antes de começar a jogar e também para veteranos que lamentam ver o RPG se transformando cada vez mais em contas e cálculos.

O capítulo final dessa versão beta de Terra Devastada, Sociedade dos Mortos, traz uma breve descrição da natureza de um morto-vivo. Somos apresentados às seis estapas da infestação zumbi e seus efeitos físicos e mentais sobre os seres humanos. E também ao sofrimento e desespero que se abate sobre uma vítima dessa infestação incurável. Contamos ainda com dois exemplos de zumbis prontos para devorarem a carne dos nossos personagens, além é claro, da própria planilha de personagem jogador.

Enfim, meus amigos, essa foi minha análise do jogo mediante a leitura da versão de testes. Creio que Terra Devastada ainda irá amadurecer um bocado antes de chegar ao mercado. Agora virá a parte divertida, que é reunir meus companheiros de grupo e jogar. Estou realmente empolgado e espero que as regras funcionem tão bem na minha mesa de jogo quanto funcionam no papel. E espero também, obviamente, que esse projeto em breve esteja disponível nas prateleiras das lojas de RPG por todo o Brasil.

9 Comentários:

Dmitri Gadelha disse...

Valeu pelo espaço, Bogéa!

Realmente me empolguei com o Terra Devastada. Em breve eu e o camarada Alan "Imiril" postaremos material para o Terra Devastada no blog Vila do RPG, como personagenss e fichas personalizadas.

Semana que vem tem novidades!

Ricardo Foureaux disse...

Tô ansioso....

O Trapaceiro disse...

Eu vejo a hora de ver esse livro ser lançado oficialmente, que seja em lojas ou em pdf mesmo!

Sucesso galera!

Anônimo disse...

É... foi através dessa resenha que conheci o Terra Devastada.
Também torço pelo sucesso do jogo.
No meu blog tem uma prévia das fichas personalizadas que vamos usar no nosso playtest (Vila do RPG).

We are living dead, mah!

John Bogéa disse...

Nossa Imiril, que ficha legal, visual muito bom. Que orgulho. :)

Anônimo disse...

Vlw mesmo Jonh!

Gilson Rocha disse...

Texto muito bacana!

Gilson

Reginaldo disse...

Pode-se julgar um sistema de RPG de Bom/Mediano/Ruim somente lendo o Livro principal de Regras ?

Já vi pessoal descendo o pau em AD&D/D&D 4E baseados somente em leitura.

Como já vi pessoas enaltecendo sistemas somente pela leitura.

Não tenho uma opinião formada e definitiva sobre tais julgamento de sistema somente lendo-os.
Acho que de certa forma é injusto o tal julgamento, e possivelmente relativo.

Acho que ler um sistema você tem alguma noção superficial dele, mas a alma do sistema de verdade somente jogando-o, e isso com muitas sessões de jogo. Cada sessão entorno de 3 horas ou mais, e entre 5 a 10 sessões.
E o principal é jogar de mente aberta o sistema, sem levar preconceitos sobre ele, e opiniões agregadas de outras pessoas que falaram bem ou mal do tal sistema.

wakandapacific disse...

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